A estiagem deste ano reforçou a convicção de muitos especialistas em energia de que o Brasil precisa reduzir a dependência das grandes hidrelétricas.
O vento é fonte de energia que mais cresce no Brasil. Entre 2006 e 2013, a energia do vento cresceu 829%. E deve estar disponível nos próximos anos para 24 milhões de residências.
Já são 167 parques eólicos em todo o país, mas 36 deles estão desconectados da rede por falta de linhas de transmissão.
A energia desperdiçada daria para abastecer uma cidade do tamanho de Fortaleza. Enquanto isso, o Rio Grande do Norte celebra um feito histórico. Em apenas três anos deixou de ser importador de energia para ser autossuficiente graças à força do vento. A previsão é a de que até o fim do ano o estado supere em energia eólica países como Noruega, Finlândia, Coreia do Sul, Bulgária, Chile e Argentina.
“E em poucos anos, com energia renovável, com o vento que ali soprava há séculos, o Rio Grande do Norte devolve energia para o sistema e passa a ser um contribuinte, em grande volume, para o sistema nacional”, ressalta Jean-Paul Prates, diretor-geral do Cerne.
Mas nada supera a força da água. Oitenta por cento de toda a energia consumida no Brasil vem da hidroeletricidade.
No passado, grandes reservatórios cheios de água garantiam o abastecimento de energia do país por até três anos consecutivos sem chuva. Mas, hoje, é muito mais fácil licenciar usinas sem grandes barragens, com menos áreas alagadas e impactos ambientais. Resultado: em um cenário sem chuvas, esses reservatórios só conseguiriam garantir o abastecimento por cinco meses.
Um relatório da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, financiado pelo Banco Mundial, revela o risco de que as hidrelétricas em construção na região Norte, Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, não gerarem toda a energia esperada por causa do menor volume de chuvas na Amazônia.
Quando não chove em boa parte do país, como neste verão, o governo autoriza o funcionamento das térmicas à gás, à óleo e à carvão. No início do ano, a queima de combustíveis respondia por mais de 11% de toda a energia do país, hoje esse número supera os 20%, o equivalente ao que é produzido pela hidrelétrica de Itaipu. É mais poluição e custa mais caro para o país.
A maioria dos especialistas defende a exploração de várias fontes de energia ao mesmo tempo. Mas o professor de planejamento energético Roberto Schaeffer faz um alerta: o sistema elétrico brasileiro não foi projetado para isso.
“O setor elétrico brasileiro já está vivendo uma situação de estresse. Ele foi pensado para grandes usinas, grandes linhas de transmissão e hoje pela impossibilidade de fazer novas hidrelétricas ou hidrelétricas com grandes reservatórios, você já está tendo várias gerações de pequeno porte entrando no sistema e sujando o sistema elétrico brasileiro, criando dificuldades técnicas de operá-lo”, declara Roberto Schaeffer, professor do Programa de Planejamento Energético da CoppeUFRJ.
O secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, negou o risco de as hidrelétricas da Amazônia não produzirem tanta energia quanto se espera delas. E defendeu o sistema interligado da forma como foi projetado.
“Quando eu planejo uma linha de transmissão, eu planejo uma usina, já trabalho com todas as características técnicas das usinas que vão entrar, de forma que um grande sistema de transmissão, como o Brasil tem, permite que qualquer tipo de fonte entre. Um país continental que tem mais de cem mil quilômetros de linha de transmissão, isso na verdade é um sonho de países que são basicamente térmicos, como os Estados Unidos, por exemplo, eles sonham em ter grandes interligações que permitem um livre trânsito de energia e troca de energia entre regiões. Isso é uma otimização, na verdade, que nós temos no Brasil e que é muito bom”, declarou Márcio Zimmermann, secretário executivo do Ministério de Minas e Energia. (Fonte: G1).
Fonte: http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2014/03/08/103368-dos-167-parques-eolicos-do-brasil-36-estao-sem-linhas-de-transmissao.html